Governação das TIC na Administração Pública Local – Propostas para a Segurança da Informação
Resumo
Em Portugal no ano de 2012 foi elaborado o PGERRTIC (Plano Global Estratégico de Racionalização e Redução de custos nas TIC, na Administração Pública) com o objetivo de melhorar o serviço público, com um menor custo. Este plano enumera cinco grupos de medidas importantes a aplicar aos recursos TIC na administração pública, sendo eles: i) melhoria dos mecanismos de governação; ii) redução de custos; iii) utilização das TIC para potenciar a mudança e a modernização administrativa; iv) implementação de soluções TIC comuns; v) estimulo ao crescimento económico. No âmbito da garantia da informação e subsequente necessidade de segurança da informação este plano indica: i) racionalização, organização e gestão do setor; ii) arquitetura, normas e guidelines de tecnologias e sistemas de informação; iii) definição e implementação de uma estratégia nacional de segurança da informação; e iv) definição e implementação de planos de ação setoriais de racionalização das TIC.
Este trabalho tem como objetivo endereçar algumas dessas medidas no âmbito da garantia e segurança da informação, associada especificamente à administração local. Para alcançar este objetivo propõe-se a criação de uma EGTIC (Estrutura de Governação para as Tecnologias de Informação e Comunicação). Esta proposta assenta nas boas práticas existentes a nível mundial no que diz respeito à governação e gestão das TIC e segurança nos sistemas de informação. A integração da governação das TIC na governação do município e reconhecer o papel de parceiro de negócio no desenvolvimento de soluções e novas áreas para gerar valor público, apoia a transparência fundamentada no uso de normas e frameworks reconhecidos internacionalmente. Assim pretende-se o reconhecimento das TIC como parceiros de negócio e fonte de criação de valor, ao invés de unicamente fonte de suporte ao mesmo negócio. Este reconhecimento terá como consequência a integração da governação das TIC na governação do município.
A proposta para a implementação da EGTIC no município é baseada no guia de implementação do CobiT 5. Este guia também orienta o programa de implementação e a forma de concretizar cada uma das fases do ciclo de melhoria contínuo, incluindo a forma de utilizar outras ferramentas tais como o ITIL ou a ISO/IEC 27000. Usando o “Appendix D. Example Business Case” do guia de implementação do CobiT 5, assim como as matrizes fornecidas pelo mesmo guia e pelo próprio Framework é realizada uma análise da capacidade e das necessidades do município antes de iniciar a implementação da EGTIC. Nesta análise é importante identificar os participantes que deverão estar envolvidos no programa, e que deverão ser partes interessadas chave no mesmo.
O referido programa de implementação de uma estrutura de governação é aplicado em simultâneo com a primeira iteração do ciclo de melhoria contínuo constituído por sete fases. Este ciclo irá dar início à capacitação dos processos do município, incluindo os processos relativos à segurança e garantia da informação.
A aplicação do programa de implementação permitiu chegar a algumas conclusões, tais como, i) a morosidade de cada interação do programa; ii) a necessidade da mitigação de alguns riscos, como por exemplo, o necessário apoio do executivo; iii) a identificação de atividades relevantes na área da segurança e garantia da informação; iv) a segurança da informação é salvaguardada ao nível do risco assumido, garantindo-se a otimização dos recursos com a priorização (pela EGTIC) baseada em justificações estratégicas; v) a criação do desejo de agir perante os resultados da análise de capacidade do município/processos.
Na perspetiva da segurança e garantia da informação foram identificadas uma série de atividades relevantes e que remetem diretamente para a gestão de risco, segurança da informação e garantia dos dados, a saber:
- Classificação dos dados, porque é importante classificar todo o tipo de dados sensíveis e o fluxo que estes possuem dentro do sistema como um todo. Neste ponto também se julga importante que o município tenha forma de conhecer o ciclo de vida de todos os seus ativos de informação.
- Monitorizar e avaliar os fornecedores quanto à conformidade com políticas existentes assegurando as condições de segurança da informação e cumprimento dos contratos e Service Level Agreement (SLA), garantindo que os incidentes de segurança são geridos da forma correta.
- É considerado essencial que seja usado uma metodologia baseada na análise de risco para priorizar as respostas às falhas de segurança de uma forma rápida, reduzindo assim ao mínimo ou mesmo eliminar o impacto no município ou partes interessadas.
- A necessidade de um Sistema de Gestão da Segurança da Informação (SGSI) que forneça uma perspetiva coordenada de segurança da informação para o município, e permitir implementar controlos de uma forma coerente. A segurança da informação é obtida através da implementação de um conjunto adequado de controlos, incluindo políticas, processos, procedimentos e estruturas organizacionais. Estes controles precisam ser estabelecidos, implementados, monitorizados, revistos e melhorados, sempre que necessário, para garantir que os objetivos de segurança e de negócios específicas do município possam ser alcançados.
- Qualquer organização deve prevenir-se, de forma eficaz, contra a manipulação maliciosa de dados sensíveis, tanto do ponto de vista de rede informática como do utilizador.
- A monitorização de todo o processo ou controlos implementados permite garantir o cumprimento dos requisitos internos e externos estabelecidos.
Importa salientar a disseminação do conhecimento sobre o que é uma EGTIC e o seu contributo para uma governação pública melhor. Devemos destacar também a importância de nivelar as propostas de capacitação de soluções, sistemas ou processos através do uso de uma justificação estratégica com parâmetros comparáveis, permitindo assim a priorização do investimento.
Em outra vertente, e sendo conhecido que muitas vezes a aferição do estado dos serviços TIC e sistemas de informação existentes nos municípios é feito de forma ad hoc ou com recursos a auditores externos, mostrou-se que a utilização das ferramentas do CobiT 5 para efetuar essa análise de capacidade, é bastante reveladora e eficaz. Abre-se assim uma porta para a primeira fase de implementação da EGTIC, criar o desejo de agir.
Texto Completo:
PDF (English)DOI: http://dx.doi.org/10.18803/capsi.v17.374-376
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